Questões Agrárias na Panamazônia No Século XXI: usos e abusos do território é o tema que orientará as reflexões do V Simpósio Internacional de Geografia Agrária e do VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, que acontecerá em Belém, Pará, no período de 7 a 11 de novembro de 2011, na Universidade Federal do Pará Campus do Guamá. Neste curto período é impossível contemplar o amplo e diversificado leque temático que se abre quando pensamos a heterogeneidade dos espaços agrários da panamazônia.
Elegemos três grandes eixos unificadores do debate. O primeiro discute a Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana, IIRSA, conjunto de ações políticas de grande amplitude, problematizando o paradigma de desenvolvimento e sustentabilidade, bem como seus impactos sobre os ecossistemas, os biomas, as nações indígenas, os povos da floresta, caboclos, ribeirinhos, camponeses e seus modos de vida. A segunda mesa destaca as formas de apropriação dos recursos naturais na panamazônia, discutindo os conflitos que são construídos em torno dessas apropriações. A terceira mesa novamente traz a relação entre estado e a questão agrária, problematizando as políticas de estado para o campo na panamazônia.
Completando essa programação, realizaremos a Jornada Jean Hébette, “Capital e Campesinato em conflito” em homenagem a esse pesquisador, desbravador e ativista, cuja obra desde a década de 1980 denuncia os múltiplos impactos e contradições da chegada dos projetos de exploração mineral e hidrelétricos na Amazônia. Construímos duas mesas: Os grandes projetos na Amazônia: leituras críticas e A resistência camponesa que exemplificam as preocupações de Jean, posseiro da ciência, que durante 30 anos cruza a fronteira amazônica estudando o campesinato.
O Simpósio Internacional e Nacional de Geografia Agrária (SINGA) tem se constituído em espaço acadêmico e institucional onde a universidade, a sociedade civil e os movimentos sociais se encontram para debater assuntos tão caros, a geografia agrária. Momento onde impera o diálogo, a ação comunicativa, a preocupação em construir um conhecimento prudente para uma vida decente, socialmente comprometido com os segmentos sociais historicamente silenciados e invisibilizados, cujo modo de vida é constantemente abalado por ofensivas intensas das múltiplas faces do capital, que difunde por todos os quadrantes um só padrão societal. Campesinato, conflitos por terra, expansão do agronegócio, regularização fundiária, educação do campo, segurança alimentar, política de estado para o campo, dentre outros, são temas debatidos, proporcionando a todos a sensação de que é possível construirmos outra dinâmica territorial no campo, presidida, sustentada e estruturada de acordo com aqueles que usam a terra para produzir alimento e, portanto, realizar sua função natural e social.
Portanto, o SINGA encontra na Amazônia motivações para um profícuo debate. A Pan-Amazônia é um dos quadrantes mais densos em questões agrárias da América Latina, cuja diversidade natural, étnica, social, cultural, econômica, enfim territorial alimenta sonhos e delírios, que recriam constantemente o mito maravilhoso do El Dourado, seja na forma de megaprojetos de integração regional, complexos hidroelétricos, de exploração mineral, de aproveitamento da biodiversidade, de construção de um banco genético, de fronteira agrícola, para ficar apenas em pouco exemplo das muitas investidas que reinventam a Amazônia como possessão maravilhosa.
Um evento de tamanho significado só poderia ser executado pelo trabalho coletivo de muitos corações e instituições amazônicas como: UFPA, UFOPA, IFPA, AGB-Seção Belém, UFAM, UNIR, UFAC, UEMA, IFMA, Faculdade de Geografia-Campus de Altamira, que não mediram esforços para construir um Simpósio a altura da importância da Amazônia para o cenário nacional e internacional, isso também é ilustrado pelos nomes de pesquisadores, representantes dos movimentos sociais e de instituições governamentais que compõem as mesas e a jornada. Todos ressaltando o quanto é urgente colocamos na agenda de debates das universidades, dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada as questões agrárias na Pan-amazônia no século XXI, destacando os usos e os abusos do território.